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RESUMOS - V JORNADA

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CONFERÊNCIA DE ABERTURA

Mulheres Imaginadas: feminismos brasileiros e imagens de si (1974-1979)

 

Palestrante: Isabela Marques Fuchs

Esta fala, síntese da tese de mesmo nome, busca apresentar imagens de mulheres na imprensa feminista brasileira da segunda metade da década de 1970. Tempos de ditadura militar e também da emergência de movimentos feministas. Dentro deste recorte temporal, foram criadas uma série de materiais impressos que buscavam divulgar causas, movimentações e eventos feministas. Neles, um grande conjunto de imagens de mulheres foi criado em diferentes mídias: fotografias, charges, quadrinhos, ilustrações, dentre outras possibilidades. As imagens são divididas em quatro grandes núcleos temáticos: “liberdade e paz”, “corpo”, “maternidade” e “trabalho”. A partir da noção de sobrevivência e devir sem fim da historiografia da arte de Griselda Pollock, Aby Warburg e Georges Didi-Huberman, estas imagens também foram pensadas enquanto instrumentos que buscavam imaginar uma nova paisagem do possível.

Isabela Marques Fuchs é doutora em História pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), mestra em História pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), com graduação em História pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e Design pela Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR).

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MESA 1: RACIALIDADE E RESISTÊNCIA CULTURAL 

Resistência Racial em tempos de repressão:

a crítica musical da música negra no Brasil dos anos 1970

 

Comunicador: Tiago Scaramella de Azevedo

A música brasileira, em suas mais diversas formas de desenvolvimento, é fortemente marcada por elementos da diáspora afro-atlântica. O intuito desta pesquisa é analisar como estes elementos atravessam a música popular urbana dos anos 1970, não por motivações puramente estéticas, mas, também, políticas. Desta forma delineia-se o que chamo (provisoriamente) de Movimento Musical Negro (inspirado pela ideia do movimento literário negro de que fala Lélia Gonzalez) dentro da grande instituição cultural que se convencionou chamar MPB – nicho musical, que, no universo das indústrias radiofônica e fonográfica sagrou-se por ser marcador de bom gosto e militância política. Meu pressuposto é que alguns artistas ligados a esse tipo de relação produção-consumo lançam mão do que Kywza Santos chama de estética da negritude – marcadores de ancestralidade africana e afro-diaspórica –  como forma de se colocar no mundo em um processo de inversão de um conceito original negativo – negro – para um conceito positivo, motivo de orgulho, negro é lindo –  e utilizam do veículo MPB – mainstream – como maneira de publicizar essa transformação conceitual de si para si e de si para o outro.

Tiago Scaramella de Azevedo é graduado e mestre em Música pela Universidade Estadual do Paraná, hoje doutorando em História pela Universidade Federal do Paraná, pesquisa alteridades negras na musicalidade brasileira.

(des)apagamentos em Curitiba

 

Comunicador: Marcel Malê

Intitulada “(des)apagamentos em Curitiba”, a comunicação tem como ponto de partida a investigação da performance [escrevedor de histórias] realizada entre os anos de 2016 e 2019, na cidade de Curitiba e em seis Comunidades Remanescentes Quilombolas do Paraná, período correspondente a um recorte do meu próprio exercício profissional, para compreender o lugar ou o não-lugar de narrativas afro-diaspóricas nas artes da cena. A partir de fontes que expõem as presenças ausentes de [escrevedor de histórias]; de Anita Cardoso Neves; do homem representado na obra “Curitiba vista por Debret” e de João Pedro “o mulato”, artista negro nascido em Curitiba no final do século XVIII; almeja-se –  juntamente com o referencial bibliográfico sobre o tema – pensar processos de subjetivação que constituem os processos criativos da negritude e que se inserem como micropolítica frente à “história oficial” que rege o status quo colonial nas artes da cena na cidade de Curitiba.

Marcel Malê é artista da cena, mestre em Artes (UNESPAR), doutorando em História (UFPR/AMENA), pesquisa sobre o apagamento de narrativas afro-diaspóricas nas artes da cena em Curitiba.

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MESA 2: HISTÓRIAS MONSTRUOSAS

Aqui há dragões em todo lugar:

mapas literários, cartografia e mapeamento na segunda metade do século XX

Comunicadora:  Brenda Yasmin Degger​

O desenvolvimento da pesquisa de doutorado teve como base a noção de que mapas ficcionais proporcionam um ponto de vista alternativo acerca da construção de relações espaciais uma vez que não estão obrigatoriamente sujeitos às normas da disciplina cartográfica. Interessa-me particularmente a forma como as narrativas literárias operam os mapas e a cartografia, por vezes distanciando-se e desafiando a linguagem cartográfica oficial, por vezes reforçando-a. A apresentação planejada é um estudo de caso que aborda princípios nacionalistas em mapas literários a partir dos mapas da série As crônicas de Prydain (1964-1968) de Lloyd Alexander realizados em colaboração com a ilustradora Evaline Ness. A análise dos mapas dentro da obra de Alexander leva em consideração as inspirações do autor na história, geografia e mitologia do País de Gales e os compara aos atlas escolares do fim do século XIX e início do século XX, fontes que proporcionaram o letramento cartográfico de escritores e leitores nesse período. Especial atenção é dada aos aspectos nacionalistas dessa produção, como a crescente utilização do mapa-logo, conceito elaborado por Benedict Anderson, como referencial e emblema da nação de modo a historicizar os mapas de Prydain no contexto cartográfico do século XX.

Brenda Yasmin Degger é doutoranda em História pela UFPR, mestre e graduada na mesma área pela mesma instituição. Seu interesse de pesquisa se concentra nas relações entre mapas, mapeamento, cartografia e literatura ao longo do século XX.

Futuro incerto:

uma análise de Neuromancer de William Gibson como sintoma da crise no tempo.

 

Comunicadora: Letícia Ruoso Wehmuth

Durante a pesquisa de mestrado analisei uma fonte literária intitulada Neuromancer do autor norte-americano William Gibson publicado em 1984 no contexto dos desdobramentos finais da Guerra Fria. Nessa narrativa acompanhamos Case, um hacker muito experiente que vive em um futuro altamente tecnológico, no qual a matrix (ciberespaço) e as poderosas inteligências artificiais são parte da realidade, combinados com uma sociedade desigual causada pelo aprofundamento do neoliberalismo. Essa obra é considerada aquela que inaugurou um subgênero chamado cyberpunk, dentro da ficção científica e das distopias, que ficaram marcadas por trabalhar com temas de um futuro catastrófico. O cyberpunk é uma mistura da estética desse movimento social e sua crítica à realidade com a aceleração tecnológica característica daquele período. Durante o trabalho destaquei a relação entre as distopias e a crise na temporalidade moderna que como definiu Koselleck era construída para pensar o futuro, a fonte atualmente se relaciona ao presentismo como conceituou Hartog, porque as projeções ainda são o próprio presente, que se desdobra em uma crítica às novas tecnologias e o neoliberalismo.

Letícia Ruoso Wehmuth graduada em História pela UFPR e em Pedagogia pela UniDombosco. Mestre em história pela linha Arte, memória e narrativa da Pós-graduação em História da UFPR. Pesquisando literatura, especificamente as distopias e o cyberpunk na década de 1980. Doutoranda pela linha Intersubjetividade e Pluralidade na História.

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MESA 3: REPRESENTAÇÕES DE GÊNERO E FEMINISMOS

Leolinda Daltro sob diferentes olhares:

heroína, vilã ou esquecida? Narrativas em disputa (Brasil, 1887-1935)

Comunicadora: Elaine Cristina Florz

A história de Leolinda de Figueiredo Daltro contém uma ausência de análises que considerem a trajetória indigenista, feminista e política como processos simultâneos e interdependentes. Além disso, a historiografia feminista brasileira hegemônica construiu a memória de Leolinda de forma essencialista, onde a condição de ser mulher (cis gênero), que foi foco determinante para a escrita, apagando os marcadores de classe e raça que atravessavam sua trajetória e, assim, silenciando as tensões políticas em torno de sua figura. Objetivamos compreender, através de excertos de jornais e fotografias, como os problemas indígenas são tratados por Leolinda, e como estes viam essa atuação, que aqui chamamos de maternalista. Em decorrência, traçaremos um comparativo entre a prática pedagógica de Daltro, materializada nos cursos oferecidos pelo Partido Republicano Feminino, voltados para as mulheres urbanas, e o projeto educacional proposto para a Colônia Joaquim Murtinho, destinado às mulheres e homens indígenas. As fontes fotográficas e jornalísticas elucidam, por meio das críticas de seus contemporâneos, as limitações do feminismo de Leolinda, atrelado à crença de que o acesso aos direitos políticos seria suficiente para a ascensão das mulheres, desconsiderando as estruturas do próprio sistema que perpetuavam exclusões e privilégios.

Elaine Cristina Florz é mestre em História na linha de Arte, Memória e Narrativa pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Graduada em licenciatura em História pela Universidade Estadual do Paraná (UNESPAR), Campus de União da Vitória, e atualmente doutoranda em História na UFPR.

Eva Moderna: análise das imagens femininas na revista A Maçã em 1922 e 1923

Comunicadora: Alexandra Rodrigues de Souza

Nesta comunicação, proponho uma análise das principais características das figuras femininas presentes na revista _A Maçã_ durante os anos de 1922 e 1923. A apresentação busca compreender não apenas a representação dessas personagens, mas também as intenções e estratégias de seus idealizadores, que, ao promoverem uma imagem contrastante com os padrões comportamentais femininos da época, tinham como objetivos principais o lucro, a venda e a geração de escândalo. A discussão enfoca, portanto, a relação entre a construção dessas figuras e os interesses comerciais e sociais que as moldaram, com enfoque nos impactos dessas imagens no contexto cultural do período.

Alexandra Rodrigues de Souza é mestre e professora de história, com pesquisas voltadas para análise de gênero nas revistas ilustradas no início do século XX.

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MESA 4: CRIME, LOUCURA E TRAGÉDIA 

Triumpho dos anormais:

loucos ou criminosos no interior do Paraná no decênio de 1930

 

Comunicador: Marcelo Douglas Nascimento Ribas Filho

Esta comunicação é um primeiro esforço de síntese, ao menos verbalizada, a partir dos resultados de uma pesquisa em vias de conclusão formal. Para contribuir com essa tarefa, optou-se por apresentar diretamente o primeiro capítulo da tese intitulada “Triumpho dos anormais: loucos ou criminosos no interior do Paraná no decênio de 1930”. Trata-se de um capítulo estratégico e posicional, em que Triumpho, município do interior paranaense, não foi pensado meramente enquanto pano de fundo, pois as especificidades locais impactaram diretamente na forma com que as verdades jurídicas foram produzidas. O capítulo foi repartido em três: primeiro, foca-se na formação discursiva que criou um regionalismo fundamentado na associação entre certos elementos que seriam responsáveis pela suposta ascensão do Paraná (notadamente, imigrantes laboriosos e recursos naturais abundantes); segundo, tematiza-se o funcionamento do judiciário local em suas especificidades, sobretudo de alguns mesmos homens, de poucas famílias, que incorporavam as instituições e exerciam certos poderes decisórios e investigativos; terceiro, fundamentado em discussões de gênero, destaca-se as ambiguidades que envolviam as performances masculinas, uma vez que ora se aceitava e valorizava o uso das violências contra outros homens e mulheres, ora se ressaltava comportamentos moralizados e entendidos como racionais.

Marcelo Douglas Nascimento Ribas Filho é graduado e Mestre em História pela Universidade Estadual do Centro-Oeste (UNICENTRO) e doutorando, da turma de 2021, pela AMENA. Com pesquisas na área do Crime e da Violência a partir de documentos judiciais do interior do Paraná.

Confissões de uma esquizofrenia incurável:

a relação entre loucura, tragédia da cultura e etnografia indígena nos escritos de Aby Warburg e Antonin Artaud sobre os pueblos e os tarahumaras (1896-1948)

 

Comunicador: Cassio Guilherme Barbieri

Quatro décadas separam a viagem de Aby Warburg ao território Pueblo, no meio oeste norte-americano, em 1896, e a viagem de Antonin Artaud ao território Tarahumara, no México, em 1936. Essas experiências marcaram profundamente suas obras. Constantemente retomadas em seus escritos, tais experiências vincularam-se a seu colapso psíquico. Warburg retomou sua estadia entre os hopis em 1923, numa conferência proferida em Kreuzlingen, durante sua internação. Artaud, por sua vez, publicou os primeiros textos sobre sua viagem ainda no final de 1936. Em 1937, uma crise psíquica vinculou-o ao sistema de asilos psiquiátricos francês até o fim da vida. Durante esse período, retornou continuamente em sua escrita a experiência junto aos Tarahumaras. Em ambos os casos, a viagem e o colapso psíquico estão profundamente vinculadas à crise da cultura europeia e suas catástrofes. Desse modo, este trabalho objetiva problematizar comparativamente nessas duas obras, a conjunção, no exercício “etnográfico”, de um diagnóstico da crise da cultura ocidental com a experiência pessoal do distúrbio psíquico. Para tanto, partiremos por um lado, da crítica à estética moderna como anestética, proposta por Susan Buck-Morss, e, por outro, das reflexões em torno das prática de escrita de si que recusam o pressuposto moderno da construção da unidade e da coerência do sujeito, a fim de compreender o tensionamento do princípio anestético da experiência moderna e do pressuposto da unidade e da coerência do sujeito operados por Warburg e Artaud em seus escritos, ao mesmo tempo, terapêuticos e etnográficos.

Cassio Guilherme Barbieri é doutorando em História na Universidade Federal do Paraná, pela linha Arte, Memória e Narrativa. Mestre em Ciências Humanas (2021) e graduado em História (2017) pela Universidade Federal da Fronteira Sul. Atua nas áreas de Teoria e História da Historiografia e nas relações entre História e Literatura.

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CONFERÊNCIA DE ENCERRAMENTO

O estupro nas Artes e na Cultura: um véu sobre o excesso

 

Palestrante: Viviana Velasco Martinez

Este trabalho enfoca o tema do estupro na mitologia greco/romana e suas representações em imagens visuais. Analisamos de que maneira, e na atualidade, tais obras não estão isentas de conflito. Elementos sublimatórios, contidos na estética das obras, permitem uma solução de compromisso entre a pulsão escópica do voyeurismo infantil - com as feições sado-masoquistas de uma cena primitiva (o estupro) que se observa – e o prazer de ver que aprecia a beleza de criações perenes como são os mitos e suas representações pictóricas. Isto diz também respeito à insistência concreta do estupro na cultura. Tal ato perverso do agressor recriaria a cena primitiva, mas para corrigi-la a partir de duas fantasias neuróticas: insultar o pai, o patriarca, e possuir canibalisticamente a mãe, para incorporá-la como objeto, e, por essa via incestuosa liberada, voltar ao ventre materno.

Viviana Velasco Martinez é professora doutora na graduação e Pós-Graduação em Psicologia, da Universidade Estadual de Maringá. Coordenadora do Laboratório de estudos e pesquisa em psicanálise e civilização – LEPPSIC. Com pós-doutorado em História pela UFPR – AMENA.

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