RESUMOS - IV JORNADA
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CONFERÊNCIA DE ABERTURA
Trauma e temporalidade nas colagens de Mário de Alencar
Palestrante: Everton de Oliveira Moraes
Moderador: Luiz Gabriel da Silva
O objetivo desta conferência é abordar a fase inicial da produção do artista Mário de Alencar como tentativa de construção imagética do que ele mesmo chama de uma “mitologia do presente” e da tentativa de elaboração de um “trauma estrutural” característico da experiência do “desamparo” e do “fim da história” nas sociedades contemporâneas. A hipótese é a de que, por meio de suas colagens, o artista busca constituir uma imagem da crise do tempo presente que tem no espetáculo, aqui entendido em sentido debordiano, um de seus principais sintomas e modos de alienação do sujeito de sua capacidade de acessar a alteridade temporal e, portanto, sua potência de agir.
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MESA 1: IMAGENS E IMPRESSOS
Imagens de Zéquinha: nasce um personagem
Integrante: Camila Jansen Santana
Tomando como objeto de estudo as embalagens das Balas Zéquinha e seu protagonista, que até hoje circula enquanto figurinha autocolante, pretendo apresentar o processo de construção do personagem e de seu suporte, debatendo as diferentes dificuldades enfrentadas pelos criadores do personagem. Nas palavras de Baxandall, autor em cuja proposta metodológica me apoiei para desenvolver essa etapa da pesquisa de doutorado, tentei “reconstruir ao mesmo tempo o problema específico que o autor queria resolver e as circunstâncias específicas que o levaram a produzir o objeto tal como é”. Desvendar as escolhas feitas no processo de criação de Zéquinha e de seu suporte nos permitiu entender o contexto de disseminação de imagens e impressos que marcavam as primeiras décadas do século XX em Curitiba e outras cidades brasileiras.
Imagens de humor na imprensa curitibana: uma trajetória AMENA
Integrante: Tatiane Severino
Um dos objetivos desta fala é tornar conhecido o acervo relativo às imagens gráficas de humor, produzidas em Curitiba - PR na década de 1970. Mas, além disso, comentar sobre possibilidades de pesquisa na área do desenho de humor produzido em terras paranaenses. Para tanto trago parte do desenvolvimento da dissertação de mestrado e, agora, da pesquisa de doutorado, com respaldo da AMENA.
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MESA 2: CINEMA E CRÍTICA
Fontes para uma história da Cinemateca do Museu Guido Viaro: um relato de pesquisa
Integrante: Luciane Carvalho
Um dos aspectos fundamentais da pesquisa histórica é o trabalho com as fontes. Cada tipo de fonte demanda uma abordagem diferente, assim como os recortes de pesquisa influenciam como as fontes serão tratadas. Oferecemos, nesta comunicação, um relato sobre as pesquisas realizadas no âmbito do Mestrado e Doutorado, onde investigamos alguns aspectos da história da Cinemateca do Museu Guido Viaro (atual Cinemateca de Curitiba), notadamente sua programação de filmes e a formação de cineastas, juntamente com a produção de filmes. Nessa trajetória, recorremos a fontes e acervos diversos, as quais exigiram organização, interpretação e extração de informações de variadas formas. Demonstraremos, portanto, como uma pesquisa sobre história do cinema envolve não apenas documentos imagéticos e audiovisuais, como também textuais variados, como jornais, revistas, zines, borderôs, entre outros.
Um crítico de cinema surge em Curitiba: os escritos e a atividade intelectual de Armando Ribeiro Pinto (1948-1954)
Integrante: Ricardo Vieira Martins Netto
O crítico de cinema Armando Ribeiro Pinto está na base do movimento de cultura cinematográfica curitibana; tendo sido o fundador do Clube de Cinema de Curitiba em 1948, o primeiro cineclube da capital paranaense, exerceu o ofício de jornalista, no qual por quase uma década dedicou-se integralmente a escrever sobre cinema, sendo um raro em que sua subsistência proveio da atividade de crítico. Com participação em jornais e revistas como a Joaquim, Guaíra e Diário do Paraná, suas publicações subdividiam-se em dois grupos: uma vertente teórica e outra avaliativa, demonstrando um amplo conhecimento da linguagem cinematográfica e da história do cinema. Tendo isso em vista, esta comunicação se dedicará ao recorte de 1948 e 1954, contemplando dois importantes textos publicados na Joaquim: “Imagem e Palavra” e “Assistência às crianças desamparadas”, os quais versam, respectivamente, sobre uma ideia de ontologia do cinema e a necessidade cultural da existência de cineclubes no Brasil. Em outra faceta, discorreremos acerca dos festivais e congressos que Ribeiro Pinto participou, tal questão mostra-se relevante especialmente para entendermos o espaço ocupado por intelectuais curitibanos no meio cinematográfico nacional, além de revelar-nos os contatos com outros agentes do meio cinematográfico brasileiro daquele período, como Paulo Emílio Salles Gomes e Francisco Luiz de Almeida Salles.
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MESA 3: AS CADEIRAS E OS BARES
A Raposa boêmia: representações da sociabilidade intelectual na imprensa alternativa curitibana (1978-1983)
Integrante: Matheus Pacheco Perbiche
Na cidade de Curitiba, entre 1974 e 1983 um grupo de intelectuais coordenou uma série de periódicos alternativos de curta duração. Os participantes deste grupo, em sua maioria, eram frequentadores da boemia curitibana. Nesse sentido, esta apresentação propõe pensar as relações entre a boemia e a produção da imprensa alternativa curitibana durante a Ditadura Militar, percebendo o bar como um ambiente desrepressivo, e a sociabilidade intelectual boêmia como influenciadora de projetos profissionais. Para fundamentar tal proposta, há um debate com certa bibliografia especializada no tema da história intelectual e também acerca da Ditadura Militar. Além disso, as análises das páginas do periódico Raposa, fazem um esforço de perceber quais são as representações que os colaboradores do periódico propõem, e qual possíveis sentidos políticos das mesmas.
“O município mais progressista”: a sede da Móveis CIMO S.A. em Curitiba
Integrante: Osvaldo Meca
A Móveis CIMO S.A. foi fundada na década de 1910, em Rio Negrinho, na época, distrito de São Bento do Sul, norte de Santa Catarina. Sua produção inicial, no entanto, era de caixas para frutas e casas pré-montadas. A partir de 1921 passou a produzir e comercializar poltronas para salas de cinema, até meados de 1960. Durante esse período a empresa foi uma das principais fornecedoras para a atividade exibidora e espetáculos em geral, mas também conquistou contratos de vulto com empresas privadas e públicas, pois foi a escolhida para padronizar o mobiliário que serviria o funcionalismo federal a partir do Departamento Administrativo do Serviço Público (DASP), criado em 1938, por Getúlio Vargas. Até 1944 a empresa mantinha uma configuração familiar, mas foi reorganizada para construir sociedades. Na época, intitulada como Cia. M Zipperer – Móveis Rio Negrinho, abriu sociedade com Maida Irmãos (Curitiba), Paulo Leopoldo Reu (Joinville), Shauz & Buchmann (Rio Negrinho), P. Kastrup & Cia. (Rio de Janeiro) e Raymundo Egg (Curitiba). Além da fábrica de Rio Negrinho, a empresa construiu uma fábrica em Joinville e outra em Curitiba, local que, na década de 1950, passou a ser a sede da empresa. Essa mudança, por um lado, gerou o desenvolvimento de alguns setores e a busca por profissionais, como a publicidade, além da ampliação de mercados; por outro lado, trabalhadores de Rio Negrinho sentiram-se preteridos por conta da mudança da sede (o logotipo da Móveis CIMO S.A. tinha a inscrição “Curitiba”). De todo modo, a nova sede criou uma relação com a cidade de Curitiba, a partir de símbolos que colaboravam direta e indiretamente com a atividade comercial: o enunciado de uma cidade moderna, de vanguarda cultural e intelectual, e que abrigava indústrias e empresas. Nosso objetivo é analisar tais discursos presentes na Revista Móveis CIMO, publicação interna da fábrica que circulou entre 1951 e 1959 e era editada na sede, e também na imprensa de grande circulação paranaense.
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MESA 4: MUSEU E JAZZ
Culturas afro-brasileiras e museus: alterações dos fazeres institucionais no Brasil do século XXI
Integrante: Luciano Chinda
A partir da adoção do conceito antropológico de cultura, da Mesa-Redonda de Santiago do Chile e da Constituição Cidadã, o campo museológico brasileiro passa a ser cada vez mais cobrado pelas dinâmicas socioculturais a realizarem novas interpretações sobre fazeres culturais presentes no seio da população, onde inserem-se as culturas afro-brasileiras. Nas últimas três décadas do século XX, o assunto ganha espaço nas mesas de especialistas, nas universidades e nos movimentos organizados, mas apenas no início do século XXI é que ações práticas passam a ser realizadas de forma sistemática por instituições culturais e pelos administradores da coisa pública. Alterações em corpos técnicos, metodologias, formas, conteúdos e ações de interação dos museus para com a sociedade que a circunda passam a se dar com a ampliação do leque temático, com a ocupação cada vez maior dos espaços de cultura e de poder e com o aumento da participação cidadã na gestão da memória e das artes. Isso nos apresenta um cenário cultural profundamente crítico e diverso, no qual os próprios movimentos de crítica cultural e de diversidade passam por revisão constante ao se postularem a museus, ao mesmo tempo em que práticas consolidadas dessas instituições não são abandonadas totalmente.
Maneiras de ver o jazz em fontes documentais: a história em acervos físicos e digitais
Integrante: Marilia Giller
A disseminação do jazz na maioria dos países nas primeiras décadas do século XX configura uma diáspora, ocorrida através da migração de músicos e da propagação por meios de comunicação de massa. A partir da análise de fonogramas, partituras, imagens, textos de crítica, carimbos, assinaturas e datas, é possível aplicar variados modos de ver o jazz em fontes documentais históricas. A documentação do jazz pode ser estudada através da análise de gravações e das tecnologias de registro, execução e produção. A difusão da palavra jazz e a sua utilização em discursos na imprensa indicam formas de assimilação da ideia como dança, som ou atitude. As críticas positivas ou negativas em periódicos diários moldaram ideias globais. A imagem do jazz está ligada às noções de raça, estereótipos e mitos. A fotografia revela características de personagens, cenas de trabalho e tipos de instrumentação. A união do jazz e do cinema resultou num ideário moderno, na maioria das vezes animado por cine-orquestras e jazz bands. Nesta comunicação, apresento como os documentos em acervos físicos e digitais são fundamentais para compreender os efeitos do jazz no mundo e perceber que ele aliou diversas práticas locais em termos de instrumentação, repertório, estruturas musicais e sentimentos. Essa reflexão pode nos auxiliar a pensar maneiras de fazer História a partir desse objeto privilegiado e multifacetado.